De onde vem a depressão? Será que ela é um Deus ou um demônio que possui a alma? Para quê ela vem? Eu costumo dizer que a depressão é como um fantasma que fica nos rondando, só esperando uma oportunidade para nos assombrar. Basta um sentimento mal resolvido, uma questão inacabada e tantos outros motivos que podem nos arrastar para uma vida de escuridão, sem sentido. Ninguém está livre, por isso precisamos cuidar dos nossos afetos, das nossas emoções, da nossa vida.
Eu e você não estamos imunes a isso e certamente conhecemos e amamos pessoas que passam por essa situação. Tem uma coisa que o Carl Jung me ensina em seus livros, que talvez ajude a compreender uma parte do que acontece quando a energia psíquica regride e para fora de ir para fora, para a vida. Embora, uma pessoa que trabalha muito ou que esteja envolvida em muitas atividades, sem tempo para as coisas da alma, também possa estar deprimida.
Muitas pessoas podem não compreender, diz Carl G, Jung, “como o seu mundo se alterou, e que atitude deveria tomar para adaptar-se novamente”. Não há como viver uma vida sem alterações, tudo muda o tempo todo no mundo. Eu sei que é difícil aceitar as mudanças, mas quem chegou na meia idade, na terceira, na velhice, seja que nome você queira chamar há de pensar nas mudanças, nas adaptações que a nova vida precisa para ser bem vivida.
Existem idades que convidam à mudança, a uma virada de chave. Quando não nos atentamos para isso, a alma não encontra lugar para ir. A energia psíquica não habita de forma saudável no caos, ela regride para poder se reconstruir. Que coisa incrível, se a depressão é uma tentativa de cura, então por que uma pessoa não se sente confortável nesse lugar? Porque não se trata de conforto, mas sim de transformação, de uma oportunidade de mudança.
Pensa simbolicamente comigo, a vida traz a mudança, a vida traz as alterações, perda de emprego, de padrão social, mortes, envelhecimento, mas não queremos olhar para isso. Não aceitamos, resistimos, querem que tudo seja como antes, mas não é. Chega um hora que a vida estagna, mas a energia vital não para, ela simplesmente regride e vai visitar os conteúdos internos.
Aceitar a vida, os estados, as emoções é fundamental, por isso a espiritualidade é tão importante na maturidade. Fazer terapia, cultivar uma espiritualidade saudável, autêntica, ter coragem de viver a vida com aceitação, com humildade, na medida certa, sem colocar força de mais e nem força de menos. É aceitar a vulnerabilidade, é aceitar o envelhecimento, a morte da juventude. Todo o dia, eu sei que a depressão está ali, olhando pra mim, posso ignorá-la, ou posso ter a coragem de olhar para ela e cuidar de mim e cumprir as tarefas da alma para promover cura. E quais são as tarefas da alma? Fazer terapia, ter contato com a natureza, não ficar sozinha por muito tempo, sempre ter amigas por perto, amar as pessoas certas: filhos, irmãos, pais e parceiros sexuais se houver. Enfim, viver um dia de cada vez, pois todo o dia é uma oportunidade de mudar e se adaptar a mudanças.
Autora: Silvana Venancio, terapeuta junguiana. Analista Junguiana em formação.
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